Ainda chocados pela brutal execução da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), o Laboratório de Estudos sobre Hegemonia e Contra-Hegemonia da Universidade Federal do Rio de Janeiro vem por meio desta nota expressar nosso pesar pela morte desta jovem combativa, de apenas 38 anos, arrancada violentamente do seio de sua família e de seus companheiros. Queremos deixar nossas condolências e solidariedade para com sua família, em particular com sua filha, Luyara Santos, que foi privada do convívio com sua mãe, e a sua companheira, agora viúva, Monica Tereza Benício. Estendemos as mesmas aos seus companheiros do Partido Socialismo e Liberdade.
Queremos, acima de tudo, repudiar esse horrendo crime. E queremos chamar a atenção que as balas que atingiram Marielle e ao motorista Anderson Pedro Gomes não são apenas mais balas que se juntam às tenebrosas estatísticas de homicídios no Rio de Janeiro. Elas são muito mais do que isso. A morte de Marielle não é mais uma das inúmeras mortes produzidas pela violência que aflige aos trabalhadores brasileiros, fruto da combinação de uma desigualdade social gigantesca e do esgarçamento do tecido social derivado das políticas de recessão do atual governo a uma política de combate às drogas, que transforma um problema de saúde pública em um problema de segurança pública. Nem mesmo é mais uma morte de uma mulher, negra e favelada, como é, infelizmente, tão comum em uma sociedade capitalista dependente, racista e machista, que soma cadáveres em um verdadeiro genocídio, em geral silencioso.
As balas que mataram Marielle são balas contra a democracia e contra os trabalhadores brasileiros. Marielle foi executada por ser uma militante de esquerda, socialista e defensora das causas populares. Marielle foi morta como um recado político. A ousadia de assassinar uma vereadora com quase cinqüenta mil votos no Rio de Janeiro é um assassinato político que demonstra a confiança que as hordas fascistas adquiriram. E, tudo indica que foi perpetrada pelas forças repressivas do próprio aparato estatal. É o aprofundamento do golpe de Estado iniciado em 2016. Os fascistas que foram mobilizados pelos golpistas mostram agora o alcance de suas garras. Em nossa opinião, tem dupla função: ameaçar as organizações populares e de esquerda; por outro, tragicamente, justificar a intervenção militar, contra a qual Marielle lutava, chegando mesmo ao adiamento das eleições.
As balas que mataram a Marielle e Anderson são um salto qualitativo no Estado de Exceção que se aprofunda desde o golpe-impeachment contra Dilma. Da deposição sem provas de uma presidente, passando por manobras jurídicas para excluir os setores populares e seus candidatos de concorrerem nas próximas eleições, pelas tentativas de podar o pensamento livre nas escolas e universidades, vemos agora uma execução, um assassinato político. Podemos estar caminhando em direção à reedição de um Estado de Contra-Insurgência. Este pode vir a se dar de forma aberta, com uma ditadura empresarial-militar, como a que tivemos entre 1964 e 1985. Ou pode se dar combinado com eleições, ainda que amputadas dos setores progressistas e com assassinatos regulares dos ativistas sindicais, populares e de esquerda, como acontece há décadas na Colômbia.
Este momento é também de análise, mas principalmente de resposta política. O LEHC se soma às mobilizações que tomaram as ruas. Só a mobilização, a organização e a unidade são a resposta contra a ameaça à democracia brasileira. Lutar pela apuração da execução de Marielle Franco, em defesa de sua memória – atacada baixamente pelas forças fascistas – e pelo desmonte das estruturas fascistas que conspiram nas sombras e matam nas ruas todos os dias é lutar pela democracia e pelo progresso social.
As forças reacionárias do grande capital pensaram que executando Marielle eles calariam os trabalhadores brasileiros. Se enganaram. Marielle não morreu e não morrerá. Ela viverá sempre em nossas memórias e, principalmente, em nossas lutas! Fascistas, não passarão! Marielle, presente!